As pessoas muitas vezes usam a frase "Eu sinto a sua dor" ao tentar confortar alguém, mas geralmente tem um sentido figurado. Esse não é o caso de Joel Salinas, um médico que sofre de uma condição rara chamada Sinestesia espelho-toque que realmente lhe permite sentir a dor física de seus pacientes.
Salinas, neurologista do Hospital Geral de Massachusetts (EUA), diz que ele tem a condição desde a infância. Sempre que ele observava outras pessoas se abraçando, por exemplo, ele se sentia abraçado também. E quando ele via alguém receber uma pancada, ele sentia o desconforto também. "Quando vejo as pessoas, tenho a sensação de tudo o que tocam o seu corpo sobre o meu próprio corpo, e é uma espécie de reflexão como num espelho", explicou.
Embora ele não sinta a dor exatamente na mesma intensidade, ele sente o que chama de sensação 'perturbadora'. Como quando ele estava assistindo a uma amputação na faculdade e ele sentiu como se seu próprio braço estava sendo desmembrado. "Eu podia sentir o sangue", disse ele.
Sinestesia espelho-toque é incrivelmente rara, apenas entre um e dois por cento da população tem. A condição está relacionada com a atividade dos neurônios-espelho que ativam-se quando uma pessoa está realizando uma atividade ou, em menor grau, quando uma pessoa está vendo outra fazer uma atividade. "Nós muitas vezes reagimos quando vemos alguém bater o seu braço, e isso pode ser uma versão mais fraca do que esta experiência sinestética", disse o neurocientista cognitivo Jamie Ward.
A rara condição é muitas vezes um fardo para as pessoas que a têm. "Eles são esmagados por essas sensações e desenvolvem problemas como ansiedade e depressão e, essencialmente, tornam-se fechados, às vezes", disse Salinas. Mas ele considera a sinestesia espelho-toque como uma vantagem em seu relacionamento com os pacientes
"Eu acho que isso me dá poderes para realmente se conectar com meus pacientes", disse ele. "Há uma parede que é derrubada quando você sente um monte de sensações que seus pacientes sentem também. É como se estivesse me colocando no lugar de outra pessoa. É parte de quem eu sou. Seria muito estranho não tê-la".
